Recentemente a Prefeitura de Carandaí (MG) informou aos estudantes requerentes que, aqueles que receberam o Auxílio Transporte em 2024 DEVEM comprovar seus gastos e restituir valores não utilizados para poderem ter acesso ao benefício novamente em 2025. A medida, amplamente divulgada em grupos de comunicação oficial da prefeitura, gerou indignação entre alunos e suas famílias.
O aviso informa que quem recebeu o auxílio de R$ 300,00 e gastou menos do que esse valor com transporte deverá devolver o excedente por meio de transferência bancária ou PIX para a conta da prefeitura. A comprovação do estorno também é exigida para validar o recebimento do benefício no ano seguinte.
Essa política, no entanto, vai além de uma simples questão administrativa.
Ela revela uma lógica de gestão pública que trata o estudante não como um cidadão em formação, mas como um número em uma planilha de controle orçamentário. Em vez de focar em ampliar o acesso à educação, o município cria novos obstáculos para jovens que já enfrentam uma série de desafios.
Essa medida tem gerado indignação entre alunos e famílias, que a consideram burocrática e excludente, especialmente diante das promessas de facilitar o acesso ao transporte estudantil.
Além disso, a insuficiência de vagas no ensino médio municipal obriga os jovens a buscarem alternativas e enfrentarem desafios na rede estadual. Essa realidade gera um ciclo de frustração e exclusão para muitos estudantes, especialmente para aqueles que conquistam bolsas em escolas particulares, mas por não serem integrais, ficam totalmente EXCLUÍDOS do Auxílio Transporte, tornando esta mais uma barreira para famílias de baixa renda.
O Auxílio Transporte, que deveria ser uma ferramenta de inclusão, acaba se transformando em mais uma barreira, com regras rígidas e uma burocracia que desconsidera a realidade financeira de muitas famílias.
A exigência de restituição do auxílio transporte não é apenas uma questão de prestação de contas. Ela expõe uma falha estrutural na forma como o apoio estudantil é pensado e executado. Em vez de simplificar o acesso e reduzir barreiras, o município impõe processos burocráticos complexos, que consomem o tempo e a energia de estudantes e seus responsáveis, muitos deles já sobrecarregados por jornadas de trabalho extensas e responsabilidades familiares.
Além disso, surge uma questão fundamental: o que será feito com o dinheiro devolvido? Não há transparência sobre o destino desses recursos, o que levanta dúvidas sobre a real finalidade da medida. Se o objetivo do auxílio é garantir o direito à educação, por que não permitir que eventuais sobras sejam reaproveitadas em outras necessidades estudantis, como material escolar ou alimentação?
O debate em torno do Auxílio Transporte em Carandaí se torna ainda mais relevante quando lembramos das promessas feitas pela atual administração municipal e também por outros candidatos, que se comprometeram a facilitar o acesso ao transporte estudantil com sua total gratuidade. No entanto, o cenário atual revela o oposto: estudantes enfrentam mais burocracia, exigências de comprovação rigorosa e até a obrigatoriedade de devolver recursos que deveriam ter como objetivo único apoiar o direito à educação.
Esse contraste entre promessas de campanha e a realidade das políticas implementadas levanta um ponto crucial: a necessidade da população em compreender o impacto das promessas políticas sem respaldo legal e financeiro. Promessas que ignoram a realidade orçamentária do município ou que não estão amparadas por leis adequadas acabam se tornando ferramentas de manipulação eleitoral, criando expectativas que jamais poderão ser atendidas.
É fundamental que a sociedade civil adote uma postura crítica, questionando não apenas o conteúdo das promessas, mas também a viabilidade de sua execução. A política pública eficaz não se constrói com discursos vazios, mas com planejamento, transparência e compromisso com a realidade da população.
O caso do Auxílio Transporte em Carandaí deve servir de alerta: não basta ouvir promessas; é preciso cobrar coerência entre o discurso e a prática, além de exigir que as decisões administrativas estejam orientadas para a inclusão e o bem-estar coletivo.
O tempo, o acesso à educação e o suporte financeiro não podem ser tratados como meros números em planilhas de orçamento. São direitos fundamentais que impactam diretamente o futuro dos jovens e o desenvolvimento da sociedade como um todo.
É preciso construir políticas públicas que considerem as realidades locais, reduzam a burocracia e garantam que o auxílio estudantil seja, de fato, um instrumento de inclusão e não mais uma barreira no caminho daqueles que lutam por uma educação digna.